sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Impressões de Viagem - Côte D'Azur & Provence

Depois de uma semana trabalhando em Londres, férias. Fazia exatamente 10 anos que tínhamos ido à França, e queríamos fazê-lo no capricho: Paris, Côte D'Azur e Provence. Todos os hotéis reservados mas somente alguns restaurantes agendados - normalmente organizamos no detalhe nossas viagens, mas por motivos vários dessa vez algumas coisas ficaram pra última hora - e um plano em mente: degustar o sul da França no sentido figurado e, principalmente, literal...




 Antes da Côte D'Azur e da Provence, porém, uma passada rápida em Paris, onde começamos as férias com (dupla) frustração: primeiro o hotel, que em teoria parecia o máximo: o novo Hyatt Regency no Boulevard Malesherbes. Não era exatamente o Crillon - mas como lá tinha corporate rate e no Crillon (pra variar) não, fizemos o check in felizes e contentes. O hotel estala de novo, prédio bonito, todo reformado. Pena que o quarto é do tamanho do meu banheiro aqui em casa. Sério, nunca vi nada igual. E o ar condicionado já tinha entrado em modo Outono pro hotel todo. Forno. Stress. Minha costumaz delicadeza com o gerente. Ar condicionado portátil no quarto. E por aí vai.

Para compensar tínhamos reserva no restaurante mais aguardado da viagem: Pierre Gagnaire. Três estrelas Michelin, o papa da cozinha molecular francesa. Nem vou entrar em muito detalhe aqui: poucas vezes fiquei tão frustrado na vida. O menu do cara é peculiar: cada prato é composto de cinco ou seis sub-pratos, todos relacionados ao redor de um tema. Começou com uma sequência de amuse bouches interessantes, mas não espetaculares como esperávamos, complicados de comer, montagens frágeis que desmanchavam ao ser tocadas, tudo muito complexo e não necesariamente delicioso. Dividimos uma entrada cujo tema era "Vieiras" e em seguida um prato principal para cada um: "Robalo" e "Pato de Pequim". Cada prato enchia a mesa de louça, e os garçons (um tanto blasés demais pro meu gosto) não se esforçavam pra explicar em que ordem era pra consumir aquele monte de informação. Até aí, ok. O que me deixou realmente frustrado foi a cozinha molecular do sujeito, que estava mais pra mElecular. Hidrocolóides all over the place. Tudo era envolto em filmes de gelatina. Forma acima do conteúdo. E o pato estava BEM fraco: o peito grelhado em cubos lembrou a carne do bandejão da faculdade. A única coisa que não decepcionou foi a conta...... Enfim, não dá pra ganhar todas.

No dia seguinte, porém, nossa sorte mudou!!! Conseguimos algo razoável para a segunda noite, para a qual não tínhamos feito reserva: L´Espadon, o 2 estrelas do Ritz. Não é o tipo de ambientação que me atrai - elegante, mas meio over - mas a comida e o serviço foram incríveis. De entrada, raviolis minimos de vitela num molho cremoso de trufas brancas rico, mas leve; e foie gras em 2 preparações: grelhado sobre geléia de ameixa e "ar" de maçã verde, ao lado duma terrine de foie sobre uma rodela perfeita de maçã verde natural. Os pratos principais foram um turbot grelhado e elegantemente acabado à mesa com molho béarnaise, e ris de veau grelhado servido sobre risetto de cèpes. Um belo flight de vinhos acompanhou a refeição, fechando bem a estada em Paris e nos preparando para a parte principal da viagem: o Sul da França.

No dia seguinte chegávamos a Nice, onde pegamos o carro e fomos direto (quer dizer, assim que eu me acertei com o GPS...) para Antibes, no Hotel du Cap Eden Roc. Fizemos nosso primeiro jantar no restaurante do hotel, debruçado sobre o mar. Pedimos um prato de antigamente, um clássico do hotel: Steak Diana, feito comme il fault, ao lado da mesa, no rechaud. Preparo simples, mas delicioso. O dia seguinte não trouxe grandes aventuras gastronômicas, mas no terceiro dia seguimos a dica do EP e fomos almoçar em Vence, no Chateau St Martin. O hotel pertence aos mesmos donos do Eden Roc, e sabíamos que o restaurante era superior (2 estrelas Michelin), mas não esperávamos aquele padrão de comida. E eu finalmente perdi a vergonha e comecei a registrar tudo com a câmera do iPhone.

Primeiro, veio o amuse bouche mais elaborado da viagem, devidamente servido num apetrecho desenhado especialmente; um creme de ovos coberto por uma espuma de abobrinha em sua casca (do ovo, não da abobrinha...) e uma torrada de brioche sensacional...



Na sequência, crème brûleé de foie gras com caramelo de mel e cristais de abacaxi (fez balançar minha predileção pelo do L'Espadon)...



... e micro raviolis de queijo Comté e lascas de castanhas...



Pratos principais? Pegamos leve, e vieram peixes: Mullet em crosta de pão e ruille de açafrão...



... e o prato da abertura do post, Turbot com groselha-do-mar...



As sobremesas eram muito bonitas, mas não necessariamente acompanharam o padrão dos pratos (se bem que eu sou suspeito, dado que é difícil sobremesa me impressionar).

Resumo: almoço espetacular, lugar sensacional.

Dia seguinte fomos pra St Tropez - por teimosia, pois o clima não ajudou, foi o único dia de chuva da viagem. Almoçamos no porto, onde acontecia a chegada da regata de barcos antigos de St Tropez; o guia Michelin no iPhone foi providencial para encontrarmos um restaurante bem bacana - Le Girelier - onde comemos bouillabaisse (uma versão modernosa, bem bacana) e camarões grelhados olhando o trabalho das tripulações de barcos de madeira centenários trabalhando. Sobremesa? A famosa tarte tropezienne, que me decepcionou. Como já disse, sobremesa pra me impressionar, é difícil.....

Cansados, pedimos ao concierge um bom restaurante próximo ao hotel. Nos mandaram ao Le Pecheur, num hotel todo modernoso, que passava imperceptível ao lado. Muito boa comida, bem apresentada, e Salon 1997 no chapagne bar.............

Dia seguinte acabava o tempo de praia, e nos metíamos pelo meio da Provence. No caminho, paramos para almoçar em Aix-en-Provencen no Clos de La Violette, dica de nossos compadres I e RA. Pegamos uma mesa ao ar livre, e pedimos o menu de almoço do chefe, muito bom. Primeiro, alcachofras à provençal.....


...Seguido de bacalhau fresco com mariscos e vieiras



Seguimos viagem até nosso próximo hotel, Oustau de Baumanière, que na verdade começou como um restaurante Michelin 2 estrelas com alguns quartos e acabou virando hotel de verdade, aos pés de Les-Baux-en-Provence. Hotel incrível, comida incrível. Fizemos um jantar menos mirabolante no dia da chegada, onde comi o prato que mais me impressionou durante toda a viagem, um Ris de Veau realmente inacreditável. O segundo jantar, dois dias depois, deixou, entretanto, a desejar: além de um foie gras bom mas não inesquecível, descobri que, definitivamente, não gosto de pombo.................

Nossa próxima parada era em Crillon-Le-Brave, o hotel mais charmoso da viagem. O restaurante não chegava perto do Oustau em finesse, mas tinha um tremendo charme rústico: o único prato que repeti dois dias seguidos em toda a viagem foi a perna de cordeiro assada lentamente na lareira, no salão do restaurante, servida mal-passada com ratatouille. Espetacular!

Finalmente, viajamos 190 km para almoçar em nosso último Michelin 3 estrelas da viagem: Maison Pic. Restaurante centenário pilotado por uma mulher, Anne-Sophie Pic, une um salão sensacional a serviço impecável e gastronomia de primeira linha.

Primeiro uma infinidade de amuse bouches excelentes,que fecharam com crème brûlée de foie gras (sim, parecido com o do Saint Martin - e igualmente, se não mais, delicioso) que eu fui obrigado a comer dois, que triste......


Depois, as entradas; uma escultural salada de mini legumes morna....




... e um prato inesperado: ovo em baixa temperatura, espuma de tomates e lulas! Exdrúxulo e brilhante ao mesmo tempo.....


Pratos pincipais? Uma receita de família, peito de frango de Bresse pocheado....



...e Tournedos Rossini revisitados...



Até as sobremesas impressionaram! Especialmente bom estava o souflé de Grand Marnier em duas temperaturas.....






E assim, bem alimentados e felizes, terminamos nossas aventuras. Em breve, tem mais. Au Revoir!!!

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